domingo, 4 de novembro de 2007

A cassete proletária difundida em laivos de charme

(Aguenta lá esses olhos na minha cicatriz porra! aí mesmo, no canto da boca)

porque o mundo burguês, pá, só se aproveita dos trabalhadores para enriquerecer pá...

(foca-te no meu movimento corporal... mais um pouco e já caíste)

porque os cinco tostões que ganhas são só arrotos da burguesia

(repara na minha mão a tocar subtilmente no cabelo seboso de gordura proletária)

porque as vítimas dos regimes fascistas...

(fixa o meu modo de aconchegar o sexo por cima das calças)

porque a gente pá... unidos pá venceremos esta burguesia filha da puta controladora do capital

(então não é desta pá... pronto, pronto... mais um movimento... observa como cruzo a minha encharpe palestiniana pelo pescoço)

Porque a malta não está unida pá porque dispersa-se em lutas pequenas pá que não nos levam a parte nenhuma, pá a luta pá é só uma... só uma..

(encontro os teus olhos nas minhas tenis rotas... pá... não está a dar resultado.)

E unidos venceremos...





[Depois da reunião do grupo de trabalho...]

- Dolores, fiquei enojada com o Manuel Zebedeu.

- Então camarada? porquê? que pensamentos são esses? olha que vou comunicar ao comité central!!! Não pode ser ... estás a aburguesar... a nossa missão... pá... a nossa missão[...]




(Deixei a Dolores em Santos e vagueio sozinha pela margem deste petróleo aquático unido por uma ponte... estou sozinha...)




Hoje, 31 de Janeiro de 1976. vinte e oito anos, quatro meses, seis dias. Conto a idade como contas de um longo rosário. O tempo pesa-me nos ombros... amanhã acordarei para o morno dia da manhã. Da fábrica ficou o que não encontrei...

Sem comentários: