sexta-feira, 30 de julho de 2010

Chico Buarque - Construção

 

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

quarta-feira, 14 de julho de 2010

História dos Povos em Documentário (15)


La pelota vasca. La piel contra la piedra, de Julio Medem (2003).

Sobre a situação do país Basco. Não confundir o nacionalismo basco de aspirações independentistas com a ETA (famigerado grupo armado). O terrorismo do Estado Espanhol (sim, esse existe e dá dó... torturas, perseguições, detenções sem causa aparente e orelhas mocas... não ouvir, não respeitar, não querer saber...) também popula ao longo de todo documentário.

Eu acredito que, no futuro, Euskadi terá a sua independência. Logo depois da Catalunha.

Trilogia


Fausto e Orlando Costa- Excerto da Peça de Teatro Fernão Mentes & A Voar Por Cima das Águas (Por este rio acima).


Fausto Bordalo Dias está a terminar a trilogia musical baseada em textos da História dos descobrimentos portugueses. Aos senhores que pensam retirar destas canções laudas e hagiografias a Infantes e heróis incensados por uma certa historiografia estatal, positivista e mofenta, muitas vezes oficializada e ouvida em bocas de gente que valha-nos deus (com letra pequena e está muito bem assim...), o portugalzito dos quatro mares pintalgados e dos senhores de turbante e bigode retratados em painéis (ditos de São Vicente) que não são mais do que a porra nenhuma e que muita tinta já correu e correrá (estou a divagar...). Voltando à vaca fria... Sim meus senhores, enganam-se redondamente. O autor não incensa ninguém. É pura música, e da melhor (agora incenso eu... mas este senhor merece). Fausto parte da documentação escrita na época dos descobrimentos (1.º Peregrinações, de Fernão Mendes Pinto [o que eu sonhei quando li este livro] 2.º História Trágico-Marítima de Bernardo Gomes de Brito, 3.º cronistas como Gomes Eanes de Zurara [escrevi uma tese a bater neste senhor. Sim, é um plagiador da Virtuosa Benfeitoria do Infante D. Pedro e não só... até mete dó], Cadamosto, Conde de Ficalho, André Álvares de Almada e P. Francisco Álvares) e constrói um conjunto de canções que têm por base a raiz da música popular portuguesa. Verdadeiras obras primas saíram nos dois volumes já lançados. Desde o "Barco Vai de Partida", à "Ilha", do "Ao som do mar e do vento" (absolutamente brilhante) ao "Na ponta do cabo", passando pelo lirismo em ritmo de adufes do "Lembra-se um sonho lindo" e das influências exóticas do "Porque não me vês" e do "Por este rio acima". Este último foi o título escolhido do primeiro volume, inspirado nas histórias fantásticas de Fernão Mendes Pinto. Constitui-se numa verdadeira pérola da musica popular portuguesa, reconhecida para além fronteiras. Alguns anos atrás (era eu caloiro na UC), um colega italiano, adepto de serões no La Scala (sim, o de Milão),passava a vida a trautear o "Como um sonho acordado" e pediu-me encarecidamente para traduzir a letra para inglês. Depois da tradução feita (nessa altura não existia o tradutor rasca do Google) ele olhou para o papel e disse: "É isto, é isto mesmo... com esta música não podia deixar de ser isto...."(não, foi da minha tradução, que não estava assim tão má... vá lá... não me chateiem...). Horas depois chegou ao pé de mim com o Peregrinações por debaixo do braço. O segundo volume, intitulado "Crónicas da Terra Ardente" não foi tão reconhecido pelo público. É o meu preferido (para muitos, o que afirmei agora é a mais pura das heresias). Explico. A História Trágico Marítima (uma obra extremamente interessante) não é tão conhecida como o Peregrinações e, muito menos tem o espírito sonhador do Fernão Mendes Pinto (muito bem desenhado nas canções feitas por Fausto), embora tenha imagens muito fortes, com a descrição sucessiva dos naufrágios de algumas embarcações e a tentativa, desesperada, dos tripulantes sobreviverem ao massacre do mar. Estes cenários apocalípticos são esplendidamente invocados pela música e letra do cantautor, como por exemplo na canção (um verdadeiro tratado da musica popular portuguesa) "Na Ponta do Cabo" ou então no remorso do "Manuel de Sousa Sepúlveda" e até mesmo na quase cinemática "A Chusma salva-se assim" (Gaspar Ximenes calado/ Não chores alto cuidado/ Tu chora só no coração/ Senão vais como o teu irmão/ Ás arfadas/ Aos arrancos em prantos/ E às golfadas...). Pena que as misturas do álbum e o próprio estúdio não sejam grande coisa. Mereciam o melhor estúdio do mundo para gravar o que considero ser um dos melhores álbuns de sempre! Quem me dera que fosse gravado nos estúdios da Real World do Peter Gabriel, aí queria ver qual dos dois álbuns seria o melhor (e com isto não pensem que não gosto do primeiro... não, gosto mais das canções do segundo). O 3.º volume da trilogia sairá no final deste ano. Lá vou queimar o meu ourinho todo... todinho. Lá terá de ser. O mais interessante, para além da letra e da música (obviamente), é a escolha dos trechos e dos cronistas dos descobrimentos. Por dever de ofício, conheço quase todos e li alguns dos registos históricos dos autores já apontados pelo programa do espectáculo que Fausto deu no CCB, onde descortinou mais de meia dúzia das canções que constarão no próximo CD. Que venha... que venha....

sexta-feira, 9 de julho de 2010

post que demonstra visualmente o estado do ensino em Portugal

o vazio...

Como me sinto depois de me lixarem a vida... para não dizer outra coisa

Eu venho das horas do diabo
Venho mais negro do que a vida
Quem me deitou um mau olhado
Com a boca posta de lado
Com sete pragas rangidas
Não foi bruxo
Nem feiticeira
Namoradeira
Nem foi Deus
Nem foi Belzebu
Lá estás tu
Foi esta cidade
Esse muro
Aquele estranho futuro
A tropeçar na avenida
Eu já me lancei na bebida
Trago o corpo esquinado
A insinuar um bailado
Vou-me rir muito
Vou gozar mais
Vou cantar o sol-e-dó
Perder-me em doses fatais
Tu vais ver só
O pé de vento que se vai levantar
Comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga
Pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
Eu sou o "Coça Barriga"
Coça, coça a barriga
Vitaminas
Coça, coça a barriga
Nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"

Os meus olhos são vaga-lumes
Inquietos num claro vazio
Vacilam em noites suicidas
Insinuam despedidas
À deriva meu navio
Amanhã não sei o que virá
O que será
Dá saudades minhas lá no bairro
Cara Linda
Vou partir como um condenado
Amargo e desfuturado
Achincalhando no fundo
E ao chegar à beira mundo
Abrir então os meus braços
P´ra me lançar no espaço

Vou-me rir muito
Vou gozar mais
Vou cantar o sol-e-dó
Perder-me em doses fatais
Tu vais ver só
O pé de vento que se vai levantar
Comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga
Pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
Eu sou o "Coça Barriga"
Coça, coça a barriga
Vitaminas
Coça, coça a barriga
Nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"

Bate forte meu coração
Salta minha fera encurralada
Já ninguém ouve o teu pregão
Tua mais linda canção
Futurando as madrugadas
Vou fugir contigo p´ra Manágua
Olhos-d´Água
Ainda um dia destes sou feliz
Por um triz
Darei largas à minha loucura
E já ninguém me segura
Quando eu voltar sonhador
Eu hei-de ser belo e sedutor
Tu vais por uso e costume
Enlouquecer de ciúmes
Vou-me rir muito
Vou gozar mais
Vou cantar o sol-e-dó
Perder-me em doses fatais
Tu vais ver só
O pé de vento que se vai levantar
Comigo a rodopiar

Coça, coça a barriga
Pantominas
Coça, coça a barriga
Patavinas
Eu sou o "Coça Barriga"
Coça, coça a barriga
Vitaminas
Coça, coça a barriga
Nicotinas
Eu sou o "Coça Barriga"
 
Coça Barriga, Fausto 

terça-feira, 6 de julho de 2010

Pérola Popular


Música Regional Portuguesa, recolha de Giacometti e Lopes Graça.
Faixa: Entrai Pastores, pertencente ao volume do Alentejo.

 

sexta-feira, 2 de julho de 2010

dupla de criminosos, no mesmo patamar de Hitler, Estaline, Pol Pot, Lenine, Ceausescu, Franco e Pinochet

Nixon & Kissinger.

Oiçam as novas TAPES disponibilizadas aqui...

História dos Povos em Documentário (14)


Welcome to North Korea


Mais um apontamento sobre a Coreia do Norte de Bernardino Soares... sim, aquele país tão democrático...

História dos Povos em Documentário (13)


Undercover In The Secret State North Korea


E ainda há fedelhos ortodoxos na Assembleia, adeptos de um centralismo democrático retrógrado e mofento, que afirmam a pés juntos que a Coreia do Norte é um país democrático!!!
O ridículo...