quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Imagem com gente dentro [16]


Curral das Freiras, finais do século XIX

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Uma Carpideira



Documentário Povo que canta de Michel Giacometti

A alma de Adriano Correia de Oliveira



Capa Negra, Rosa Negra



Rosinha

A melhor definição de saudade que já vi escrita e cantada

[...]
E a saudade
É uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
[...]
Porque não me vês, Fausto

Dona Rosa em Marrocos



A simplicidade de uma mulher invisual que durante anos cantou nas ruas de Lisboa para os transeuntes e ao mesmo tempo pedia esmola para sobreviver, até que um produtor musical austríaco parou diante desta senhora e ouviu a alma que emanava a sua voz. Hoje é conhecida por toda a Europa (como as cantoras, Dulce Pontes, Teresa Salgueiro, Mísia e Mariza), e, ironicamente, quase passa despercebida no seu próprio país.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma canção sobre guerras

Estes vêm feros
E amotinados
Aqueles andam bravos
Muito acossados

Esses são mais grossos
Em algazarras
Os outros mais tamanhos
E estendem as garras

Os bandarras
(Os bandidos)
Os baptizados
(Os babuínos)
Os levantados
(Os saladinos)
Todos provocam malditos aos gritos

E há um rapino de pulo
Escaramuçam larápios
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
Todos acodem a uma
Mozumbos, cafres e arábios
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Os sem lei nem costumes
Mostram as partes traseiras
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
E tanta gente responde
Mostram-te as partes grosseiras
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Andam em roubos
E desnudam os que vão derradeiros
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
Dão de focinhos no chão
Dados por golpes rasteiros
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Vivendo muitas vidas na vida
Hão-de viver como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada de breu

Estes saltam brutos
Como bugias
Aqueles fazem
Cruas carniçarias

Esses muito indígenas
E carniceiros
Os outros sanguinários
Muito estrangeiros

Os quadrilheiros
(Os destemidos)
Os apossados
(Os perseguidos)
Os vergastados
(Os carcomidos)
Todos em sangue lavados aos brados

E alguns dão santiago
Dão nos bons e nos maus
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
E todos enchem o ar
O céu de pedras e paus
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Uns varados dos peitos
Do espinhaço à outra parte
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Tantas cabeças ao talho
À força dos bacamartes
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Vão fustigados, os braços
As pernas e outros lugares
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Estão nos contrários uivando
Golpes mortais aos milhares
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Morrem de muitas mortes e à morte
Hão-de morrer como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada...

E alguns afrouxam calados
Cortados pelas gargantas
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Todos vomitam de si
Chuvas de setas e lanças
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Uns vão de craneos abertos
Com as medulas de fora
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Tantas ossadas e carnes
Que a lama engole e devora
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Morrem mortos de muitas mortes
E à morte
Hão-de morrer como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada de breu
Toda enfeitada de breu

Fausto, album Crónicas da Terra Ardente



Oiço e lembro-me de uma guerra colonial onde alguns Soldados de Baco voltaram para si mesmos e vagueiam pelas cidades deste país com o pensamento naquilo que fizeram além mar...

Sobre uma brigada

Cá estou eu de novo a falar sobre Coimbra. Não, não é para criticar a sua universidade.Paz à sua alma que jaz perdida por entre as vielas e medinas próximas do rio Mondego. Este post é dedicado ao que de melhor se faz nesta cidade em termos musicais. Não, não vou falar sobre o fado de Coimbra, que, actualmente, é o mesmo desde que existiu, tirando as inovações introduzidas por Menano, Betencout, José Afonso e Luis Goes. Os actuais cantores e compositores não conseguem sair do quadrado musical formado por estes e repetem até à exaustão fórmulas já antes vistas e cantadas, sem um cheiro de inovação ou de arrojo interpretativo. Muitos dizem que é impossível romper com as matrizes fixadas na pedra da canção de Coimbra. Muitos disseram o mesmo em relação ao fado de Lisboa e vê-se como nos últimos temos este evoluiu consideravelmente, com novos intérpretes e novas melodias bem afadistadas.
Venho aqui falar de um grupo nascido em Coimbra que tudo fez para preservar a essência da música tradicional portuguesa - a Brigada Victor Jara. Nascidos com o intuito de louvar o tão conhecido cantor chileno assassinado pelas falanges de Pinochet, depressa tomaram conta do panorama musical português ao incutir simplicidade e veracidade à música popular portuguesa. Esta sim a verdadeira música nacional que se canta um pouco por todo o território continental e ilhas e não o fado (seja ele de que lugar for) que durante anos tentaram colar tal rótulo, esquecendo as chulas, os charambas e canas verdes, os corridinhos e o tão genuíno canto chão. Não sei o que se passou na década de 80 do século passado, pois nessa época toda a música tradicional era mal vista, deixada de lado e envergonhava o país e a quem a ouvia. Meus senhores, uma coisa é certa. Retirem da vossa órbita os rachos folclóricos feitos a régua e esquadro por pseudo-ideólogos do Estado Novo, e vejam como flui a verdadeira música tradicional, muita dela recolhida por Lopes Graça e Michel Giacometti nos anos de 50 e 60. Oiçam a Brigada Victor Jara, que recriam o melhor da nossa música que se encontra nos poros de qualquer português, parte integrante do nosso sentido de pertença.


Marião, Brigada Victor Jara


Durma, Brigada Victor Jara


Charamba, Brigada Victor Jara

Vou me embora vou partir mas tenho esperança

Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança
de correr o mundo inteiro, quero ir
quero ver e conhecer rosa branca
e a vida do marinheiro sem dormir

E a vida do marinheiro branca flor
que anda lutando no mar com talento
adeus adeus minha mãe, meu amor
eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo

Tradicional do Alentejo

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Foi por ela



Foi por ela, Fausto.

Ela, uma mulher e ela a Europa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

José Afonso


José Afonso, Canção de Embalar.

É-me muito difícil escrever sobre este cantautor. Talvez porque a partir dele iniciei a minha procura por diferentes universos musicais, em que a transparência, a veracidade e o sentimento estivessem sempre presentes. Não sei quando o conheci, penso que as suas melodias estiveram presentes na minha família nuclear, principalmente pela voz e sensibilidade musical da minha mãe, e, deste berço primacial, parti em busca de um mundo sonoro de diferentes tonalidades pelos quatro cantos do mundo.

Foguete


Foguete Cantada pela diva Maria Betânia e seu irmão Caetano Veloso, junto com a sua mãe dona Canô

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Sobre Câmara de Lobos



Imagem: Domingo de Um Pescador em Câmara de Lobos de Jean Dieuzaide(1956)

Aqui, valter hugo mae (escritor de excepcional qualidade, leiam o seu apocalipse dos trabalhadores) fala sobre Câmara de Lobos, a minha terra natal - onde cimentei a minha identidade vincada por uma baía de pescadores e pelas serranias de casas dispersas -, elogiando a sua nouvelle vague arquitectónica que responde aos preceitos estéticos de enquadramento paisagístico. À excepção de um parque de estacionamento na Praça da República (nome que predomina, embora a edilidade camarária quisesse modificar a toponímia por Praça da Autonomia), que tapou a vista que tínhamos do Cabo Girão, no percurso que vai da porta da igreja até à Praça, os novos edifícios são de salutar pela beleza das linhas sóbrias e pela sua funcionalidade. O Ilhéu - local onde andei no jardim de infância, na escola primária e onde morou os meus avós maternos - desenha-se agora como um verdadeiro jardim suspenso no mar, com a encosta recortada por casas recuperadas.
Não é de agora que Câmara de Lobos impressiona pela sua beleza física. Mas, devo confessar que a sua face real, a sua beleza intrínseca, essa ainda está por explorar e mostrar ao mundo as verdadeiras cores da sua identidade. Falo no seu povo - claro - que durante muitos anos, digo mesmo séculos, foi escondido, posto de parte, visto por muitos insulares e continentais como a mancha negra da ditosa e epitetada Pérola do Atlântico.
Povo diferente dos demais conterrâneos, com outros sentidos de pertença, cuja vida se debruça no impulso e na felicidade momentânea, com religiosidade bem vincada, embora na prática (no dia-a-dia) seja um pagão festivo.
Estas são características que nunca vi serem enaltecidas, demonstradas, espelhadas em estudos de diferentes índoles ou então na literatura.
E o povo não espera, esvai-se aos poucos o seu sentido matricial, voltando-se assim para novos sentidos, mais funchalenses, estes sempre aceites por la movida do concelho-mor e da pseudo-intelectualidade madeirense, que viu e vê em Câmara de Lobos um ser menor, pobre, bêbedo, drogado e desbocado.
Quem me dera ter metade do talento de um Gabriel Garcia Marques, pois material para o meu Cem Anos de Solidão câmaralobense não faltaria com certeza. Mas o tempo passa e a inspiração nunca veio, nem nunca chegará....