sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Deste medo que é só meu…

Entro na minha inconsciência, muitas vezes pesada, com a pretensão de conseguir demonstrar a leveza desta acção. Sento-me num hipotético precipício de frente para as albas nuvens que se interligam com o pôr-do-sol e escrevo com estes dedos pequenos sobre o teclado, uma série de quadrículas pretas em que toco incessantemente, com sofreguidão amordaçada, até conseguir chegar á realidade que pretendo que algum dia seja meramente consumada. Olho para o ecrã e, perante a minha miopia visceral ao rápido impacto visual, vou descobrindo negros caracteres de varia espécie que se intercalam com o branco inocente e puro de algo acabado de sair do genuíno e imaterial, desvirginado pelo preto sujo de um pensamento que quer ser vida. Mais uma vez não resisto em vomitar incessantemente laivos de má literatura, algo gongórica e de certo modo retrógrada, visto não ter (nem talvez meramente pretender) a decência de esperar pela inspiração (se é que esta existe) nem pelo respirar da minha mente… procuro, neste gesto inato de escrita automática quiça surrealista a la maniera de André Breton e de outros (que, como aquele, são tão basilares, por isso nem pela mais pura heresia os deveria invocar), fugir à loucura da escrita e, num só fôlego, acabar com este meu tormento do dever imposto para um bem final…
Deparo-me agora, nesta simbiose de sonho e de obrigação imposta, com fundo musical de Schubert e elevo-me da encosta em que me encontro. Agarrado ao portátil, vou de encontro à leveza desse pôr-do-sol que, em pleno Outono, se desenha para os lados do grande Cabo iniciador de novos horizontes insulares mesclado pelos tons verde (da vegetação) e laranja, próprio de quem, com o sentimento de despedida, se deixa iluminar por estes últimos raios da renunciada tarde e princípios de uma alvorada nocturna.

São tantos os minutos…
Mais uma vez mergulhei na mediocridade…
Para a próxima será melhor…

P.S.: perdão Schubert, André Breton e outros … perdão … vocês não mereciam isto!

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