quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma canção sobre guerras

Estes vêm feros
E amotinados
Aqueles andam bravos
Muito acossados

Esses são mais grossos
Em algazarras
Os outros mais tamanhos
E estendem as garras

Os bandarras
(Os bandidos)
Os baptizados
(Os babuínos)
Os levantados
(Os saladinos)
Todos provocam malditos aos gritos

E há um rapino de pulo
Escaramuçam larápios
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
Todos acodem a uma
Mozumbos, cafres e arábios
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Os sem lei nem costumes
Mostram as partes traseiras
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
E tanta gente responde
Mostram-te as partes grosseiras
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Andam em roubos
E desnudam os que vão derradeiros
(Combatem o combate)
(Sobre a terra, sobre os céus)
Dão de focinhos no chão
Dados por golpes rasteiros
(Pega, não pega)
(Pelas almas, pelos céus)

Vivendo muitas vidas na vida
Hão-de viver como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada de breu

Estes saltam brutos
Como bugias
Aqueles fazem
Cruas carniçarias

Esses muito indígenas
E carniceiros
Os outros sanguinários
Muito estrangeiros

Os quadrilheiros
(Os destemidos)
Os apossados
(Os perseguidos)
Os vergastados
(Os carcomidos)
Todos em sangue lavados aos brados

E alguns dão santiago
Dão nos bons e nos maus
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
E todos enchem o ar
O céu de pedras e paus
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Uns varados dos peitos
Do espinhaço à outra parte
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Tantas cabeças ao talho
À força dos bacamartes
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Vão fustigados, os braços
As pernas e outros lugares
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Estão nos contrários uivando
Golpes mortais aos milhares
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Morrem de muitas mortes e à morte
Hão-de morrer como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada...

E alguns afrouxam calados
Cortados pelas gargantas
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Todos vomitam de si
Chuvas de setas e lanças
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Uns vão de craneos abertos
Com as medulas de fora
(Matas)
(Mato, valha-nos nosso senhor)
Tantas ossadas e carnes
Que a lama engole e devora
(Mata e esfola)
(Misericórdia senhor)

Morrem mortos de muitas mortes
E à morte
Hão-de morrer como
Soldados de Baco na terra
Nunca a paz é a paz
Toda enfeitada de guerra
(Enfeitada)
Como um qualquer Deus
Toda enfeitada de breu
Toda enfeitada de breu

Fausto, album Crónicas da Terra Ardente



Oiço e lembro-me de uma guerra colonial onde alguns Soldados de Baco voltaram para si mesmos e vagueiam pelas cidades deste país com o pensamento naquilo que fizeram além mar...

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