segunda-feira, 14 de maio de 2007

Um papel em branco… [diálogo(s) de um eu colectivo ]


- Não sei se devo deixar os meus pensamentos se soltarem por entre campos de brancura ingénua e doce.
- É tão só um papel! Não penses que sobre ele cai toda a metafísica humana e animal.
- Só um papel… recorda que este passo já é de coragem… não tenho mais que um sentimento de querer ocupar um espaço no vácuo do amanhecer…
- As sonoridades albas desmaiam por entre as marcações negras que pulsas incessantemente com os meus dedos e formam uma pauta polifónica a contragosto dos clássicos…
- Que eterna desventura de viver na contemporaneidade! Não posso olhá-la como um pretérito ausente, mas sim como a presença constante de quem vive…


- Não!!! Na angústia presente de começar a escrever, foges e pensas que o mundo está perdido porque não tens verba nem situação estável a nível emocional (foram-se uns pretensos amigos, ficam as verdadeiras amizades). Todos os males do mundo se fundem na tua mente e aparentas sofrer de cada picada de abelha que vês e ouves na televisão ou nas palavras reais (muitas vezes transformadas por ti em irreais) das conversas de café. Mas, nada disso é razão… Procuremos assim o centro da epidemia…


- Passadas horas penso que já a encontrei… o medo… o medo de não saber pensar sobre uma folha em branco. O medo de não saber exprimir o que vai na alma.
- O medo da mediocridade é terrífico! É um verdadeiro anátema pessoal… um anátema filológico.
- Por isso, para tempos futuros, mais polifonias albas nascerão como mero exercício de fuga á mediocridade, mais composições ingénuas e despojadas virão á baila num campo musical duplicado, na partitura de uma folha em branco e nos sons vindos do outro lado da janela… sento-me aqui, entre duas varandas, e penso escalpelizar este desgosto natural dentro de mim que se clarifica como a aescrita.
- Para a próxima será bem melhor…
- Assim seja.

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