quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Reposta a um email anónimo

Caro(a) senhor(a)

Não adianta. A minha alma não é assim tão negra como descreve. Talvez, quem sabe, nos encontraremos pelos caminhos onde geralmente ando e nada acontecerá. Talvez, um dia, use para consigo a expressão "medonho" que escreveu no seu opúsculo digital. Para psicoterapeuta basta quem me atura e já tenho pena deles porque muito aturam e cuidam de mim. Acredite, eu tenho amigos! Eu sei que não sou fácil. Não, não invoque Freud e seus amestrados para concluir o meu desvio de pensamento em relação às normas sociais tão devotamente descritas por si. Quanto ao desprezo pela cidade onde estudou e estudei, só posso dizer que é uma atitude de negação para com um passado que cheira a mofo e a naftalina visualmente negra de uma capa e de tudo o que ela simboliza, nessa Meca do bem estar (só para alguns) conservador do nosso país. Sim, eu sei, tem razão, a minha ainda está no armário, não por mim mas pelo desgosto dos que de mim são próximos se, algum dia, a destruísse ou então afogasse ao rio das suas "musas mondeguinas". Para a próxima, se quizer falar comigo [vou pedir à tua mãe ou Maria Vai ou Maria vem - Max fica sempre bem com o meu sutaque tão xavelha da Coroa do Ilhéu],peço-lhe que não refira que conhece este ou aquele que me conhece ou já conheceu ou ia conhecendo de não conhecer, porque, sabe, o ser e o parecer são diferentes e eu para o que não me conhece mas conhecendo ou fingindo de vista desconhecer... não sei se fui, ou sou, ou serei... Não sei sinceramente. Escrevo-lhe com todo o gosto e com a admiração por ter sido, como eu, sobrevivente de uma determinada instituição de ensino. Espero que não tenha aprendido nada porque se assim foi não deixa de ter sido uma atitude de grande intelegência.
Mais uma vez agradeço os seus préstimos de psicanálise a la minuta mas não me interessam para nada. Espero que não fique ofendido(a). Eu sobrevivo. Olhe para este espaço, desfrute a mediocridade do que escrevo, pense que consegue fazer melhor - eu sei que consegue! - e desligue a Internet. Depois os pensamentos serão todos seus. Tudo é seu, nada meu,tinha mais do que fazer do que pensar na vida dos outros, sou muito pouco vouyer e não me interesso pelo que vem do exterior. Até na literatura e na música sou assim. Gosto mais de sentir as minhas sinopses a fermentar numa atitude quase pavloviana. Dou mais importância ao efeito interior que causa em mim do que propriamente exteriorizar em descrições estilísticas do bonito ou do feio, do cru ou do cheio, do ornamento ou do liso ou quem sabe da harmonia etc etc etc. Sou egoísta nessas coisas.

Sabe meu senhor(a), espanto-me em querer ajudar, mas recuso a sua esmolazinha cristã de maçã crivada, podre, mesmo podre. Não. Não quero atingir o Reino dos céus. Não acredito em Deus... Acredito nos homens de boa vontade que olham para o outro como se da vida e do bem se tratasse, não como a esmola envangélica do reinado que há-de vir [amen (desculpe, agora fui grosseiro)].

Sim, acertou numa coisa! Sou de História, ou melhor, fui de História, melhor ainda, fui à História... Aguardo agora o devir. Só esse interessa...

Cordialmente

Saúde e Fraternidade

D.F.

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