quarta-feira, 26 de maio de 2010

chanson française


Patricia Kaas,  Et s'il fallait le faire 

Esta mulher é boa todos os dias (desculpem a brejeirice)... A Piaf, se a conhecesse, ficaria com ciúmes...
Por incrível que pareça, esta canção foi seleccionada, em 2009, para o telelixo da Eurovisão e ficou em 8.º lugar. O povinho quer é bailarinas de coxa grossa e Kens plastificados com os biceps à mostra...
Come on girl shake your bum bum...    

terça-feira, 11 de maio de 2010

Panorama nazional apostólico

Quando é que isto vai acabar?
Está em Portugal o Papa Bento XVI, manda chuva de um cubículo dentro da cidade de Roma, que tem a pretensão de tornar as nossas alminhas iguais, sem excepção.
As televisões cá do feudo não dão outra coisa. Não pensam que existe outras fés, posições ou mesmo pessoas que não estão para aí viradas.
Ontem, o Prós e Contras, mais parecia um prós e prós e prós... Não havia um contra que fosse, com palmas e mais palmas e mais palmas, quase vomitei de tanta mediocridade. O sim senhor, o sim meu chefe, o sim padre Silva, o sim senhor Presidente do Conselho, continua a durar neste país.
A pior ideologia que tivemos cá no burgo, um fascismozito (que muitos dizem que não foi) canonizado de Fátimas burlescas e de sacrossantos salazares pios, teve como base de sustentação a própria igreja católica, que viu na fantochada erguida em São Bento (de 1928 até 1974, desculpem, para mim até aos dias de hoje) um braço político para mandar num povo analfabeto e afastar diabos vermelhos de olhos e ouvidos virados para Leste.
Este país foi podre...nunca deixou de estar pobre.
Para muitos o Deus, Pátria, Família é doutrina válida ainda em pleno século XXI. Pois é, o que querem é orelhas baixas, pouco pensamento, seguindo o rebanho ordeiro e obedecendo... sim Obedecer, porque tens de obedecer.
E o dedo sujo continua.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Estados de Espírito

Apetece-me sair daqui e ir de vez para o planeta Marte.
Este país caiu em todos os lugares-comuns...
Continua o país dos três f (s). Fátima, Fado e Futebol.
Deixo aqui mais um f. Não de fé, nem de falência... mas sim outro...
F****-se.

domingo, 2 de maio de 2010

Psicologia dos pescadores, segundo Eduardo C. N. Pereira

Câmara de Lobos, vista para o Bairro do ilhéu (1890)


Uma psicologia especial distinta da do resto da população madeirense, é a dos pescadores de todos os centros piscatórios do arquipélago. Apenas desmamados criam-se, por assim dizer, dentro de água, familiarizando-se com as ondas. Aos sete amos atiram-se para dentro dos barcos, adestrando-lhes os braços na força dos remos e o corpo nas vergastadas das vagas. Como bons marinheiros singram em todas as direcções, apoitam em todas as alturas; perdem de vista a terra, a família, a vida. Não há ano que não paguem ao mar o dízimo duma , não se vista de luto meia colónia e não saiam a esmolar dezenas de órfãos sem pão. Mas mal acabam de enterrar os náufragos duma tempestade, logo se metem ao mar afrontando os elementos ainda em fúria que os matou.
Aglomerados em colónias, os pescadores formam como que uma classe à parte da restante população. Isolam-se na sua vida, costumes, dialecto e  conceitos sociais. em todos os centros piscatórios há bairros próprios, por eles escolhidos livremente, onde a sua existência é hereditária em tudo, desde a posse das habitações à herança das alcunhas. [...] Estes Bairros notam-se em toda a parte por serem velhos, sujos e miseráveis; é sua feição característica e invensível contra o progresso e contra a lei. Fechando o círculo do seu isolamento, os homens agrupam-se às companhas em terra como no mar, e as mulheres trabalham e convivem dentro dessa afinidade.
Pobres, humildes, boçais e geralmente analfabetos, os pescadores limitam suas ambições aos estreitos horizontes do bairro e da família: o pão de cada dia, uma casa e um barco são as suas maiores aspirações. Têm entretanto consciência da sua inferioridade não se conformando com esse desnível social, pelo que são  invejosos e maldizentes das outras classes, A alma, todavia, é grande e generosa, aberta e larga como o mar. A vida doméstica, que tem por hábitos de colmeia, dá-lhes solidariedade e independência, personalidade e carácter. Compartilham da vida em comum como do sentir e haveres; socorrem-se uns aos outras em todas as necessidades. São simples, pacíficos e bons, mas ofensa feita a um é fogo ateado em toda a colónia, e nada os intimida nem contém: armam-se de fisgas e navalhões, atiçados os homens pelas mulheres, e unidos todos em massa para a morte ou para a vida, para o que der e vier. Ciosos da sua boa fé, do honrado proceder da sua classe e da solidariedade geral, vingam todas as afrontas em comum. Rudes e impetuosos como o mar, não são subservientes nem tartufos para ninguém. Apesar de honestos, concebem a moral sem certos prejuízos e preconceitos e a promiscuidade da vida a que os obriga e habituou sua condição social, não afronta a morigeração geral dos costumes.
O contacto com a imensidade do oceano, com a grandeza das tormentas e com os mistérios do infinito, fez do pescador um contemplativo e um crente, duma fé arreigada e fortalecida pelo mar, porque este todos os dias lhes levanta o pensamento para Deus e invoca-O em horas de perigo e bendizendo-O de mãos postas, em horas de felicidade.[...]
Os santos patronos  dos pescadores são seus companheiros de todas as horas e viagens, pendentes do pescoço em medalhas e escapulários, cosidos ao surrão dos casacos, lembrados nos nomes dos barcos e invocados em horas de tormenta. Não deixam, no entanto, de ser tão supersticiosos como devotos: de mistura com imagens de santos usam bentinhos ou defesas contra feitiços; à bênção de cada barco juntam um chifre de boi contra o mau olhado; quando voltam do mar sem peixe, procuram mulher de virtudes para desenfeitiçar os aparelhos.
O trabalho é para os pescadores uma necessidade como a assistência mútua um dever. O lucro pingue ou magro, reparte-se em quinhões não esquecendo o mealheiro dos inválidos e doentes, muito embora venham a adoecer de privações os que os socorrem. As economias, porém, que o pescador devia guardar em seu proveito, consome-as em álcool, muitas vezes em prejuízo da família, chegando até a penhorar para o mesmo fim trabalho e dinheiros futuros. [...]
Não se conhecem os pescadores senão por alcunhas e, com o mesmo desrespeito com que se chasqueiam e insultam ridicularizando qualidades físicas e morais, assim falam. Falam e praguejam à mistura. O juramento em nome de Deus e dos santos patronos, a cuja invocação se descobrem respeitosamente, abona duma maneira irrefragável todas as afirmações.

Eduardo C. N. Pereira, Ilhas de Zargo, 1957.


Como filho de Câmara de Lobos, Eduardo Pereira elaborou, com conhecimento de causa,  esta fantástica descrição da população piscatória, mais conhecida pelo xavelhas.
Eu como xavelha de berço, nascido e criado (e com todo o orgulho), tezinho da parte do pai e marada da parte da mãe (as alcunhas xavelhas são por demais), corroboro em quase tudo o que aqui foi escrito.